ELEIÇÕES: Nos tempos passados, a liberdade era plena e havia tantos embustes como os há agora
- 27 de jul. de 2021
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Antigamente, no âmago das eleições das décadas de 50 e 60, cujas lembranças mantenho intactas, comum o transporte de eleitores - até em caminhões - a fim de conduzi-los aos locais de votação, eis que as distâncias eram muito grandes, pois os municípios eram igualmente extensos, como o velho Araranguá, onde nasci.
Esses eleitores, inclusive, ganhavam refeições pagas pelos partidos, tudo dentro da lei. As cédulas de votação eram de papel, com o nome do candidato e o cargo e podiam ser impressas por qualquer um. Mais: distribuídas de casa em casa, mas ruas e, pasmem: na própria fila de votação. Sem embargo. Podia-se até juntá-las do chão e colocá-las num envelope para depositar na urna. Tipo jogo do bicho (mal comparando, porque é uma contravenção, mas é uma figura interessante de parâmetro): valia o que estava escrito, a intenção.
As eventuais tramóias não estavam nesse processo de indução. Estavam, como hoje ainda, diante de toda a sofisticação tecnológica, na contagem final. As histórias de malandragens e manipulações são muitas. Hoje também tem. Só que mais "científicas". Por exemplo, pesquisas forjadas para induzir a vontade do eleitor. Ou as fantásticas construções dos marqueteiros, construindo deuses e transformando mentirosos e medíocres em bons candidatos. Naquele tempo era no corpo-a-corpo, vis-à-vis, de boteco em boteco, de porta em porta, de casa em casa e nos comícios frequentadíssimos, gigantescos.
Tempos em que, bom dizer por necessário, havia disciplina ideológica e fidelidade partidária tácita - não essa engendrada por leis e artifícios penais. PSD era PSD; UDN era UDN. Se existia vergonha e atentado moral era um pessedista fazer campanha ou afirmar que votaria num udenista e vice-versa. Pedra, pedra; pau, pau. Os trânsfugas ou migrantes de uma legenda para outra decretavam o final da carreira. Não ganhavam mais nem pra merenda. Ou, noutra figura de linguagem, não se elegiam nem mais pra inspetores de quarteirão. Hoje se diz: nem pra síndico de prédio.
A legislação eleitoral, igualmente, era mais maleável. Hoje, as lutas são para liberar de vez essas formas de manietar o eleitor: voto facultativo, candidatura avulsa, fim do voto proporcional (elege-se quem tem mais voto e pronto, na ordem decrescente em relação ao número de vagas disponiveis nos legislativos), voto distrital e outras evoluções. Precisa liberar. Além disso, ampliar as possibilidades de propaganda. Não o exagero de que foi até pouco tempo, com propagandas penduradas em postes e uma poluição total, mas uma liberação razoável. Hoje há uma prisão de divulgação odiosa. Não pode quase nada e quase tudo é crime. Até a dimensão de um banner num jornal tem que ser do tamanho exatinho.
Muita frescura, trocando em miúdos. Até daria para concordar, se isso tudo alterasse em alguma coisa o processo para melhor. Mas isso não acontece. Infelizmente.
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