Faixa de areia de Balneário Camboriú: que o day after seja glorioso, sem as dúvidas de agora
- 30 de ago. de 2021
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Atualizado: 2 de set. de 2021

A verdadeira coleção de pais da criança se acumula a cada dia. Todos querem uma casquinha da obra de alargamento da faixa de areia da Praia Central, em Balneário Camboriú. A ideia nasceu no começo da década de 70 e passou por todos os governos e prefeitos desde então. Alguns deles até tentaram, mas foram mal sucedidos por razões elementares: falhas nas buscas do método ideal, falta de recursos, complexidades dos licenciamentos. Exatamente os desafios encarados pelo atual prefeito, Fabrício Oliveira desde o início do seu primeiro mandato.
Tal qual a obra, afinal concretizada, do abastecimento de água tratada e rede de esgoto das Praias Agrestes, também aqui houve muitas investidas anteriores, todas sem sucesso. Os porquês precisam ser elencados: não houve a necessária persistência o principal deles. A qualquer dificuldade, principalmente a renitência da Fatma em liberar os licenciamentos (até por falta de elementos importantes) – tendo como causa a falta de harmonia política entre município e Estado. Quem sabe a aceitação de mudanças necessárias na forma de expor e na elaboração dos projetos.
Tal qual, para citar só mais um exemplo, a incrível falta da LAO (Licença Ambiental de Operação) do próprio sistema de esgoto sanitário da cidade, inexistente desde o seu gênese, no distante ano de 1982. Parece incrível, mas é só verdade: o sistema funcionou por quase quarenta anos sem licenciamento de operação. E foi, novamente, a persistência do governo atual que a conquistou.
Chegamos noutro finalmente: o alargamento da Praia Central.
Aqui novamente juntam-se os mesmos elementos: elogios, dúvidas, críticas, exceções, sugestões, ideias e expectativas. E as naturais tentativas de apoderar-se dos méritos.
Vamos colocar: há méritos de muitos, no curso do tempo. Mas nenhum tão grandioso quanto o mérito de peitar e fazer, ultrapassando os óbices enfrentados por todos.
Pois a obra está aí. E vamos a ela.
Nenhuma dúvida de que, cumprido o que está no projeto, será de alto benefício para a cidade, embora possamos colocar alguns senões e dúvidas:
1. Virará praia de tombo (afundamento repentino)?
2. Evitará a invasão do mar nas ressacas mais fortes? (PRAIAS naturais, com mais faixa de areia do que Balneário Camboriú terá com o alargamento não impedem: Arroio do Silva e Rincão, por exemplo; quando há ressaca forte do mar, a água vai até a segunda quadra; essas praias têm algo como 150 metros ou mais de faixa de areia natural).
3. O mar “tomará de volta o que é dele”? (EXEMPLOS mundiais mostram que não)
4. Haverá a necessidade periódica de manutenção (com os devidos custos disso)?
5. A ocupação predatória não ocorrerá, nem agora e nem no futuro?
6. Ou: a ocupação privada exagerada será evitada?
7. Não há riscos de mudanças de critérios de ocupação no futuro?
8. Será permitida a volta do estacionamento ao longo de Atlântica?
9. A fiscalização da ocupação indevida (ou uso indevido) funcionará (até aqui não funcionou)?
Nas justificativas para a obra, há necessidade de mais espaço para o cidadão. Ótimo. Vamos acreditar, até porque inexistem razões para não fazê-lo, neste momento.
Entretanto, outras justificativas geram incertezas sobre suas efetividades:
1. Sombra na areia e faixa estreita.
Basta analisar as pesquisas de satisfação turística ao longo dos anos todos, até aqui: em nenhuma houve críticas ou observações sobre a inconveniência da sombra na areia ou da largura da faixa de areia. Em NENHUMA. Assim como nada se reclamou, consistentemente, de aglomerações, congestionamentos, filas. Fosse isso razão, não seria Balneário Camboriú tão desejada e frequentada, ano após ano, temporada após temporada.
É simples: os turistas e visitantes vêm pra cá por causa de nossa espetacular infraestrutura urbanística e a altíssima capacidade de prestação de serviços, a começar pela rede hoteleira e gastronômica. A praia é a pérola da coroa, claro, mas não marcada por faixa de areia mais larga ou por sol durante todo o tempo.
De qualquer maneira, o alargamento será a grande oportunidade de se acrescer mais lugares de esportes, exercícios, permanência e lazer. Sem dúvida. Um enriquecimento evidente.
2. As pessoas ficam na cidade e não somente na areia da praia.
Por isso há, concomitantemente, a necessidade de se criar opções de lazer, permanência, esportes, exercícios e infraestrutura social fora dela, inclusive nos bairros. Porque temos as noites. Porque temos os dias chuvosos. Porque temos dias frios. E nestes momentos as opções precisam ser igualmente estimuladas. Seja melhorando o que já existe, seja criando opções. Exemplo: a repaginação do Calçadão da Central e todo o seu entorno e o aproveitamento, antes que façam uma lambança, do terreno do Hotel do Bosque. Ali poderemos ter um belo parque natural de visitação.
Ah, sim: e não podemos nos tornar um mosteiro com voto de silêncio. Há que se tratar a arte, mormente a música, como parte da cidade, permitindo-se apresentações sem os entraves de hoje. Já fomos melhores nisso, desde quando, numa fórmula simples, tínhamos um grupo musical em cada quiosque da orla, depois bloqueada por decisão judicial. De lá pra cá, até os bares e restaurantes foram proibidos de ter “barulho” musical, em boa parte da cidade (embora, reconheça-se, há bares e restaurantes que independem de música ao vivo para ter sucesso – o mais claro exemplo disso é o Chaplin).
Mas vamos lá. Ainda há chão pela frente. Muito chão. Muita crítica. Muito apoio. Muito disse-me-disse. E muita areia.
Que o Day After seja glorioso.
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