Os dois melhores do debate da Band, numa avaliação fria e profissional

Ouvi todo o debate. Esperei e vi a polarização entre Bolsonaro e Lula. Foram os alvos principais até entre si e nem poderia ser diferente: são os únicos com exercício efetivo de poder e, portanto, com flancos expostos, seja por verdades, seja por ilações.

Entretanto, debate não é eleição. Debate é jeito de abordar, dominar os espaços ofertados pela produção, uso da dialética correta, concatenação das ideias, capacidade de transmitir. Nisso, dois se destacaram, a meu ver e o digo sem medo de errar: Ciro Gomes e Felipe D'Avila. E, ironicamente, com suas colocações críticas, foram mais eficazes na desmontagem das alegações e números fantasiosos e ideias de Lula do que o próprio Bolsonaro. Por quê? Porque o fizeram articuladamente, sem raiva e sem espírito de retaliação. Com informações e números. Tanto que sequer foram incomodados pelo próprio Lula. E, diga-se, nem por Bolsonaro - exceto por um momento de referência do presidente ao episódio da ex-mulher de Ciro (Patrícia Pillar), por causa de uma declaração infeliz, caracterizada como machista por parte do candidato do PDT. Algo fora de lugar. Bolsonaro poderia ter evitado aquela referência, pois até ali Ciro mais o beneficiava do que prejudicava.

As duas mulheres candidatas - Simone Tebet e Soraya Thronicke - mais trocaram figurinhas, mantendo-se numa relação bem protocolar e educada entre ambas. Não comprometeram, mas também não empolgaram.

Lula e Bolsonaro, na polarização esperada, mais trocaram farpas e acusações. Tinham informações, graças ao exercício do poder. Usaram-nas mal e de forma desengonçada.

No mais, nenhum milagreiro esteve ali. As questões continuam complexas e exigindo muita força. E não só do presidente eleito (ou reeleito), mas de toda a estrutura funcional do país, principalmente a relação entre os poderes - que, pela Constituição, devem ser independentes, harmônicos e interatuantes. Capítulo não cumprido até aqui em nenhuma das condições.

A organização do debate pela Band foi boa. A apresentação idem. Puro profissionalismo.